De repente duas mãos em minha cintura tentando me levantar, mais um susto e me virei, era outra velhinha, me ajudando a levantar.
– Você precisa ir para a pousada. Faltam só cinco minutos.
Quando me levantei e fui falar com ela, ela havia sumido, não tem como ela ter corrido tão rápido. Achei que tivesse sido imaginação por causa do sono, mas resolvi ir para a pousada logo, estava ficando apavorada. E continuavam aqueles passos atrás de mim, aquela respiração que me arrepiava, vindo aquele frio e medo de dentro, medo de algo que não via, mas sentia, já não tinha mais dúvidas de que havia alguém ali me seguindo.
Chegando perto da pousada comecei a ver várias velhinhas na rua, todas me olhando. “De onde saíram essas senhoras? Só tem velhos nessa cidade?” Pensei comigo.
Resolvi entrar no carro ao invés de ir pra pousada. Mas ao chegar ao meu carro vi duas velhinhas lá dentro. O carro estava trancado, como elas entraram lá??
Então corri pra dentro da pousada.
– Finalmente! Achei que não chegaria a tempo. Falou a recepcionista da pousada.
– A tempo do que?
– Já é meia-noite. Toma, agora é seu turno. Disse ao me entregar um molho de chaves e uma folha de papel.
– O que é isso?
Mas ela nem me respondeu e foi saindo, e pra meu espanto, sua fisionomia foi se transformando enquanto ela caminhava em direção à porta, ao chegar na porta ela parecia ter envelhecido uns 30 anos em segundos, bem ali na minha frente. Não acreditei no que vi, esfreguei os olhos assustada “só pode ser minha imaginação”.
Então olhei para o que ela havia me entregado. No molho de chaves havia um chaveiro que dizia: “Pousada Aline”. E na folha de papel:
“Agora você é a nova dona da pousada. O contrato é de 30 anos, sem direito a renovação.”
Achei que fosse uma brincadeira, quando uma mulher atravessa o saguão da pousada em direção à recepção onde eu estava, aparentando ter uns 30 anos, vestida com um longo vestido branco, cabelos tão negros quando o carvão, um contraste impossível de não ser notado.
Com uma voz suave, ela começa a dizer.
– Agora você tomará conta desta pousada, há exatamente 120 anos atrás, eu fui amarrada e largada aqui nesta pousada, só porque eu não era daqui. Eu só estava de passagem, só queria um lugar para passar a noite e seguir viagem até meu destino, mas eles acharam que uma pessoa de fora poderia dar um mau exemplo aos costumes deles, que eu era mais uma das pessoas enviadas para “modernizar” a cidade. Eles cercaram a pousada, levaram a dona da pousada pra fora, depois fiquei sabendo que ela foi julgada como traidora e obrigada a deixar a cidade. Eu fiquei aqui, presa dentro da pousada por dias, eles fecharam todas as portas e janelas por fora, cortaram o fornecimento de água e energia elétrica, depois de 4 dias, já estava delirando de fome e sede, exatamente à meia noite, eu finalmente morri. Nestes 4 dias eu só conseguia pensar em como estas pessoas eram más e desejando tudo de ruim que eu podia imaginar à elas.
‘Então, assim que eu morri, as pessoas não conseguiam mais deixar a cidade ninguém entra e ninguém sai, todas ficaram presas aqui como eu. A cada 30 anos, permitimos a chegada de uma pessoa à cidade, para tomar conta desta pousada, substituir a dona que foi mandada embora e substituir a antecessora, que passa a fazer parte da cidade e a manter os seus costumes. “